No dia 14 de março de 2018, a vereadora do PSOL, Marielle Franco, e o motorista Anderson Gomes foram vítimas de um crime político que estremeceu a nossa sociedade e repercutiu mundo afora. Marielle, mulher negra, bissexual, nasceu e cresceu em uma favela do Complexo da Maré e durante sua trajetória política, foi exemplo de luta. Atuou em movimentos populares, sociais, lutou pelas mulheres, com foco nas negras e LGBTI+, denunciando corajosamente abusos da polícia nas favelas do Rio de Janeiro.

Naquele momento a segurança do estado do Rio de Janeiro estava sob intervenção federal, decretada pelo ilegítimo governo Temer, para enfrentar o “crime organizado”. O general do Exército Walter Souza Braga Netto, do Comando Militar do Leste, tinha sido empossado como interventor no estado, responsável pelo comando da Secretaria de Segurança. Nesse cenário, aconteceu o crime que agora, 6 anos depois, com a prisão dos irmãos Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, TCE-RJ) e Chiquinho Brazão (deputado federal pelo partido União Brasil - UNIÃO), juntamente com o delegado Rivaldo Barbosa (na época chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro empossado um dia antes do crime), temos, mesmo que parcialmente, a sequência sobre como aconteceram os fatos, seus executores, os mandantes e quais foram os motivos.

Pelos fatos conhecidos até agora fica evidente que em lugar de combater o “crime organizado”, particularmente os grupos milicianos do Rio de Janeiro, o “crime organizado” foi colocado diretamente no comando da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O motivo principal dos assassinatos da vereadora e do motorista, foi a disputa de terra por parte destes grupos milicianos. Chiquinho Brazão, na época era vereador e apresentou o PLC 174/2016 que mirava a grilagem de áreas irregulares na zona oeste do Rio. Marielle, e a bancada do PSOL, votaram contra a proposta. No mesmo dia do assassinato, o projeto de lei foi aprovado, ainda que depois foi considerado inconstitucional pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do RJ.

Toda essa trama evidencia a imbricação do Estado burguês, seus braços armados com interesses econômicos e políticos privados que tramam nas sombras o extermínio de lideranças que representam interesses populares e do(a)s trabalhadore(a)s. A milícia, como força paraestatal, não é apenas um problema local, mas um sintoma de um sistema corrupto que prioriza os interesses das classes dominantes em detrimento das vidas do(a)s trabalhadore(a)s nas áreas suburbanas e periféricas.

Neste momento reiteramos que Marielle Franco, como tantos outros lutadore(a)s, vivem em nossos corações e em nossa luta diária. No nosso sindicato é homenageada com uma sala em seu nome, em representação de todo(a)s o(a)s lutadore(a)s contra as opressões e exploração. Comemoramos os últimos desdobramentos da investigação de seu assassinato, mas não deixemos de recordar, neste ano que lembramos os 60 anos do início da ditadura empresarial-militar, quanto falta ainda para que a verdadeira justiça venha a ser estabelecida. Por isso, é hora de fortalecer as iniciativas de construção das lutas populares, da unidade contra a barbárie promovida e financiada pela burguesia, pelo imperialismo e pela extrema-direita, para reclamar justiça com este crime e com todos os crimes contra a população negra e pobre, as mulheres, a população LGBTI+, os povos originários, a juventude e a classe trabalhadora. Reclamamos memória, verdade, justiça e reparação! E dizemos para os setores golpistas do 8 de janeiro: sem anistia!!!

O Andes-SN reitera a solidariedade com as famílias das vítimas e com todos aqueles que lutam por justiça e por um país onde a vida e a dignidade humana sejam prioridades.

Companheira Marielle Franco, PRESENTE!

Brasília(DF), 26 de março de 2024.

Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional

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