50 milhões de pessoas no mundo são vítimas da escravidão moderna, diz OIT

Publicado em 15 de Setembro de 2022 às 10h54. Atualizado em 15 de Setembro de 2022 às 10h55

Trabalho e casamento forçados aumentaram significativamente nos últimos cinco anos

 Trabalhadores em condições análogas à escravodão em Sergipe. Foto: MPT

O número de vítimas de escravidão moderna atingiu, em 2021, a marca de 50 milhões de pessoas, segundo relatório divulgado na segunda-feira (12) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em parceria com a Walk Free e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O documento “Global Estimates of Modern Slavery” (disponível apenas em inglês), mostra que dentre essas 50 milhões de pessoas, 28 milhões realizavam trabalhos forçados e 22 milhões estavam presas em casamentos forçados. A escravidão moderna, conforme definida no relatório, consiste no trabalho forçado e casamento forçado. Ambos se referem a situações de exploração nas quais uma pessoa não pode recusar ou abandonar devido a ameaças, violência, coerção, engano ou abuso de poder.

O número de pessoas em situação de escravidão moderna aumentou consideravelmente nos últimos cinco anos. Em 2021, 10 milhões de pessoas a mais estavam em situação de escravidão moderna em comparação com as estimativas globais de 2016. Mulheres e crianças continuam sendo desproporcionalmente vulneráveis. A escravidão moderna está presente em quase todos os países do mundo e atravessa fronteiras étnicas, culturais e religiosas. Mais da metade (52%) de todos os casos de trabalho forçado e um quarto de todos os casamentos forçados ocorrem em países de rendas média alta ou alta.

Trabalho forçado

Dormitório em Mato Grosso. Foto: MPT 

A maioria dos casos de trabalho forçado (86%) ocorre no setor privado, enquanto o imposto pelo Estado representa 14% das pessoas submetidas. Conforme definido na Convenção da OIT, essa condição refere-se a “todo trabalho ou serviço que é exigido de qualquer pessoa sob a ameaça de qualquer penalidade e para o qual essa pessoa não se voluntaria”.

A exploração sexual comercial forçada representa 23% de todo o trabalho forçado. Quase quatro em cada cinco vítimas de exploração sexual comercial forçada são mulheres ou meninas. Quase uma em cada oito pessoas que realizaram trabalhos forçados é criança (3,3 milhões). Mais da metade delas é vítima de exploração sexual comercial.

Casamento forçado
Estima-se que 22 milhões de pessoas viviam em um casamento forçado em um algum dia de 2021. Isso indica um aumento de 6,6 milhões em relação às estimativas globais de 2016. A verdadeira incidência de casamentos forçados, particularmente aqueles envolvendo crianças de 16 anos ou menos, é provavelmente muito maior do que as estimativas atuais podem capturar; estes dados são baseados em uma definição restrita e não incluem todos os casamentos infantis. Os casamentos infantis são considerados forçados porque a criança não pode consentir legalmente.

O casamento forçado está intimamente ligado a atitudes e práticas patriarcais há muito arraigadas e depende, em grande medida, do contexto social para que se perpetue, segundo explica o relatório. A esmagadora maioria dos casamentos forçados (mais de 85%) foi impulsionada pela pressão familiar. Embora dois terços (65%) dos casamentos sejam encontrados na Ásia e no Pacífico, quando o tamanho da população regional é considerado, a prevalência é mais alta nos Estados Árabes, com 4,8 pessoas em cada mil na região em situação de casamento forçado.

Migrantes
Trabalhadoras e trabalhadores migrantes têm mais de três vezes mais probabilidade de estar em trabalho forçado do que as e os não migrantes. Conforme o relatório, embora a migração laboral tenha um efeito amplamente positivo sobre as pessoas, famílias, comunidades e sociedades, esta descoberta demonstra como as pessoas migrantes estão particularmente vulneráveis ao trabalho forçado e ao tráfico de pessoas, seja devido à imigração irregular ou mal governada ou a práticas de recrutamento injustas e antiéticas.

“Sabemos o que precisa ser feito e sabemos que pode ser feito. Políticas e regulamentações nacionais eficazes são fundamentais. Mas os governos não podem fazer isso sozinhos. As normas internacionais fornecem uma base sólida e é necessária uma abordagem que inclua todas as partes. Sindicatos, organizações de empregadores, sociedade civil e pessoas comuns têm um papel vital a desempenhar”, disse Guy Ryder, diretor-geral da OIT.

Para António Vitorino, diretor-geral da OIM, o relatório destaca a urgência de garantir que toda a migração seja segura, ordenada e regular. "A redução da vulnerabilidade das pessoas migrantes ao trabalho forçado e ao tráfico de pessoas depende, em primeiro lugar, de estruturas políticas e jurídicas que respeitem, protejam e cumpram com os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos os migrantes - e potenciais migrantes - em todas as fases do processo de migração, independentemente de seu status de migração. Toda a sociedade deve trabalhar junta para reverter essas tendências chocantes, inclusive por meio da implementação do Pacto Global sobre Migração”, afirmou.

Segundo Grace Forrest, fundadora da Walk Free, a escravidão moderna é a antítese do desenvolvimento sustentável. “No entanto, em 2022, continua a sustentar nossa economia global. É um problema criado pelo homem, relacionado tanto com a escravidão histórica quanto com a desigualdade estrutural persistente. Em tempos de crises cada vez mais profundas, a vontade política genuína é a chave para acabar com esses abusos dos direitos humanos”, comentou.

Soluções
O relatório propõe uma série de ações recomendadas que, tomadas em conjunto e rapidamente, contribuiriam muito para acabar com a escravidão moderna. Essas incluem: melhorar e fazer cumprir as leis e as inspeções do trabalho, pôr fim ao trabalho forçado imposto pelo Estado, fortalecer as medidas de combate ao trabalho forçado e ao tráfico de pessoas em empresas e cadeias de suprimentos, ampliar a proteção social e fortalecer as proteções legais, incluindo o aumento da idade legal do casamento para 18 anos sem exceção.

Outras medidas incluem, ainda, abordar o aumento do risco de tráfico de pessoas e de trabalho forçado para trabalhadoras e trabalhadores migrantes, promover o recrutamento justo e ético e aumentar o apoio a mulheres, meninas e pessoas vulneráveis.

Fonte: OIT, com edição de ANDES-SN

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