ANDES-SN se solidariza com os Guarani Kaiowá e cobra justiça pelos crimes contra povos indígenas

Atualizado em 28 de Junho de 2022 às 18h07
Guarani e Kaiowá manifestam-se durante visita de comitiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) à TI Guyraroka. Foto: CIDH/divulgação via Cimi

O ANDES-SN divulgou, nessa terça-feira (28), nota na qual se solidariza com os povos Guarani Kaiowá, vítimas de mais um brutal ataque no Mato Grosso do Sul, enquanto defendiam seus territórios. Os ataques, praticados pela polícia militar do estado e seguranças privados para expulsar as comunidades indígenas de seus territórios retomados, tiveram início no dia 24 de junho e deixaram ao menos um indígena morto, Vitor Guarani Kaiowá, e várias pessoas feridas, entre as quais, mulheres e crianças.

“Essa operação criminosa deixou um saldo de vário(a)s indígenas ferido(a)s, internado(a)s nos hospitais da região e o assassinato do indígena, Vitor Fernandes. Esse cenário de ataque aos povos originários, fomentado pela invasão do agronegócio sobre suas terras tem sido a marca inconteste da violência que já matou dezenas de lideranças indígenas, destruiu o papel de fiscalização da Funai e do Ibama e que conta com o apoio explícito do governo federal e dos governos estaduais aliados dos bolsonaristas”, afirma o ANDES-SN.

O Sindicato Nacional reforça que é necessário “avançar na defesa das populações originárias, na denúncia internacional dessas ações, no questionamento ao Congresso Nacional e na exigência de apuração desses crimes contra a humanidade”.

“O ANDES-SN se solidariza com a luta dos povos indígenas Guarani Kaiowá, bem como apoia irrestritamente a luta do(a)s indígenas brasileiro(a)s contra o Marco Temporal, pela demarcação urgente de suas terras, contra todas as formas de exploração do meio ambiente e das condições de vida das populações indígenas. Este ataque brutal, somado ao assassinato recente do servidor público da Funai, Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips, são casos que expressam o avanço em nosso país da violência, do autoritarismo e do desrespeito à vida“, acrescenta a nota.

A entidade finaliza se colocando “à disposição e ombro a ombro com as lutas dos povos indígenas e exige que a justiça seja feita à(o)s indígenas Guarani-Kaiowá, com o reconhecimento do seu processo de luta pela reocupação de suas terras ancestrais.”

Leia aqui a nota do ANDES-SN.

Enterro de Vitor Guarani Kaiowa, em Guapo'y, Amambai (MS). Foto: povos Guarani Kaiowá / divulgação via Cimi

Mais de 2 mil acompanham enterro
Cerca de 2 mil pessoas marcharam e acompanharam, na tarde dessa segunda-feira (27), o enterro de Vitor Guarani Kaiowá, indígena brutalmente assassinado pela Polícia Militar na última sexta-feira (24), no território Guapo'y, em Amambai, no Mato Grosso do Sul.

De acordo com o Conselho Missionário Indigenista (Cimi), a marcha ocorreu após a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF) realizarem um acordo com o fazendeiro que ocupa, atualmente, a área da retomada dos Guarani Kaiowá.

O acordo estabelecido, conforme o Cimi, é de que o enterro em cova seja feito até 15 metros da cerca – uma forma de evitar um novo episódio de violência policial e permitindo, assim, que amigos e parentes de Vitor possam visitar o túmulo.

Caso Guapo’y
Na manhã do dia 24 de junho, fazendeiros da região e policiais militares invadiram o território de Guapo’y, em Amambai (MS), no intuito de expulsar, por meio do uso da força, os indígenas – mesmo não havendo ordem judicial. Devido à gravidade e truculência do ataque, os povos indígenas referem-se à situação como “massacre de Guapo’y”.

Na ocasião, policiais militares dispararam tiros de borracha e de arma de fogo contra os indígenas, deixando ao menos nove feridos e um morto – Vitor Guarani Kaiowá, de 42 anos. A comunidade denuncia ainda ser alvo de uma série de preconceitos e acusações que não encontram respaldo na realidade dos fatos.

A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com quase 10 mil indígenas. A Terra Indígena de Amambai é uma das mais antigas de Mato Grosso do Sul, criada em 1915, pelo antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI), fundado por Cândido Rondon, em 1910 e que funcionou até 1967, sendo substituído pela Funai. Em 1991, as terras foram homologadas como indígenas.

Segundo o Cimi, para os Guarani Kaiowá, Guapo’y é parte de um território tradicional que lhes foi roubado – quando houve a subtração de parte da reserva de Amambai. Os indígenas clamam atenção, exigem proteção às suas vidas e seus direitos.

De acordo com informações da Assembléia das Mulheres Kaiowá e Guarani, a comunidade retomou o território nativo Kaiowá Guarani Guapo’y Mirin Tujury pela terceira vez, nessa segunda (27), no momento do enterro do corpo de Vitor.

Foto: povos Guarani Kaiowá / divulgação via Cimi

Histórico de violência
Uma nota divulgada pela Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (Abia) e outras entidades de pesquisadores e pesquisadoras, em repúdio à mais recente violência contra os Guarani Kaiowá, faz um resgate de outros crimes já sofridos pelos povos indígenas na região.

“Sem elencar todos os episódios, lembramos que no ano de 2002, ao retornar a seus espaços territoriais, a comunidade de Kurusu Amba teve assassinada uma idosa, Churite Lopes. Em 2003, foi a vez da comunidade de Takuára ter seu líder, Marcos Verón, assassinado. Em 2009, as comunidades de Pyelito Kue e de Mbarakay foram atacadas, com vários de seus integrantes sendo feridos por projéteis de borracha. Também em 2009 a comunidade de Ypo’i teve Genivaldo e Rolindo Vera sequestrados; o corpo de Genivaldo foi encontrado em um córrego crivado de tiros, mas o corpo de Rolindo Vera nunca foi recuperado. Em 2011, a comunidade de Guaivyry foi atacada, resultando no desaparecimento de seu líder Nísio Gomes. Posteriormente, a Polícia Federal concluiu que ele foi assassinado. Ressalte-se também a morte, em 2015, de Simião Vilhalva na comunidade de Ñanderu Marangatu, assassinado com tiros na cabeça”, relata o documento.

“A maioria destas ações foram concretizadas por empregados de fazendeiros locais, em alguns casos por meio de uma empresa de segurança privada, a Gaspen, que foi identificada pelo Ministério Público Federal como tendo atuação paramilitar criminosa”, afirmam as entidades. Leia aqui.

Com informações do Cimi e da Assembléia das Mulheres Kaiowá e Guarani. Foto da capa: CIDH/divulgação. Demais imagens: povos Guarani Kaiowá / divulgação via Cimi

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