Câmara dos Deputados aprova MP 1031 que viabiliza privatização da Eletrobras

Publicado em 25 de Maio de 2021 às 09h04. Atualizado em 25 de Maio de 2021 às 09h15

Privatização significará um aumento de tarifa de cerca de 20% nas contas de luz das residências

Foto: Alexandre Marchetti

A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada da última quinta-feira (20) a Medida Provisória (MP) 1031/21, que viabiliza a privatização da Eletrobras. A estatal, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, é responsável por 30% da energia gerada no país. A MP, aprovada por 313 votos favoráveis a 166 contrários, tramita agora no Senado. A medida perde a validade em 22 de junho.

Atualmente, a União possui 42,57% do capital da Eletrobras e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), outros 16,14%. Somadas as participações, o Estado é dono de 58,71% da empresa. Pela MP, a privatização se dará pela venda de novas ações ordinárias na Bolsa de Valores, que não poderiam ser compradas pela União nem pelos bancos públicos. Esse processo é conhecido como capitalização.

As novas ações da Eletrobras, que serão vendidas no mercado, sem a participação do governo, resultarão na perda do controle acionário de voto mantido atualmente pela União. Sobrará à União uma ação de classe especial (golden share) que lhe garante poder de veto em decisões da assembleia de acionistas, a fim de evitar que algum deles ou um grupo detenha mais de 10% do capital votante da Eletrobras. De acordo com o texto do relator, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), esse tipo de mecanismo poderá ser usado para a desestatização de outras empresas públicas.

A privatização da Eletrobras deve significar um aumento de tarifa de cerca de 20% nas contas de luz das residências, pelo período de 30 anos, segundo dados da Plataforma Operária e Camponesa para Água e Energia (Pocae) e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), com base em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Além do aumento de tarifa, o país também corre o risco de ter a qualidade da distribuição da energia prejudicada e viver novos apagões energéticos como os que aconteceram no estado do Amapá em 2020, depois da privatização da Companhia de Eletricidade. 

Conforme a Pocae, "vender a Eletrobrás significará a privatização de 125 usinas de geração (51.125 MW), sendo 80% de base hidráulica, 71.000 quilômetros de linhas de transmissão e 366 subestações de energia elétrica. Seu patrimônio é avaliado em quase R$ 400 bilhões, mas o governo prevê arrecadar apenas cerca de R$ 61,25 bilhões com a sua venda", afirma em nota.

A Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel) se manifestou e afirmou que, em apenas três anos, "a Eletrobras garantiu mais de R$ 30 bilhões de lucro para o Brasil". Parte desse dinheiro foi entregue ao governo federal para investir nas áreas da Saúde e Educação. "A Eletrobras ajuda de forma atuante no desenvolvimento do Brasil", diz o comunicado.

Parlamentares de oposição criticaram o fato de o tema não ter passado por audiência pública, por especialistas, operadoras e operadores do sistema ou pela população. A oposição chegou a entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir que a votação acontecesse, mas teve o pedido negado.

Esta é a segunda vez que o governo federal tenta privatizar a Eletrobras. O modelo é o mesmo do Projeto de Lei (PL) 5877/19, que o governo Bolsonaro enviou ao Congresso em 2019, mas não teve andamento. Em 2018, Michel Temer também tentou a privatização com o PL 9463/18, mas o projeto não andou. Nesta época a Aneel já havia divulgado a estimativa de aumento tarifário em cerca de 20% nas contas residenciais.

ANDES-SN contra a privatização
O ANDES-SN sempre foi crítico ao processo de privatização das estatais, iniciado nos anos 1990, com governos neoliberais, e que prossegue até os dias atuais. Crimes sociais e ambientais têm sido comuns por parte de empresas privatizadas, como é o caso do rompimento das barragens nos municípios de Mariana (MG) em 2015, da mineradora Samarco S., e Brumadinho em 2019, da Vale S.A, empresa criada a partir da privatização da então empresa estatal brasileira Companhia Vale do Rio Doce.

Para o Sindicato Nacional, a privatização da Eletrobras é mais um ataque, neste momento de crise sanitária e econômica, ao povo brasileiro, que sofrerá com aumentos abusivos nas contas de luz e a perda de qualidade no serviço prestado.

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