Docentes do Imes de São Manuel enfrentam desrespeito a direitos e ameaça de privatização

Publicado em 19 de Fevereiro de 2025 às 17h49. Atualizado em 24 de Fevereiro de 2025 às 11h02

O Instituto Municipal de Ensino Superior de São Manuel (Imes-SM), localizado no município de São Manuel (SP), enfrenta uma grave crise que culminou na suspensão de suas atividades desde o início de 2024 e em um controverso processo de privatização. Fundado em 1972, como Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Manuel e transformado em autarquia municipal em 1982, o Imes teve suas atividades suspensas, de forma unilateral e arbitrária pela direção, com anuência da Prefeitura e da Câmara de Vereadores.

A gestão municipal justificou a decisão pela suspensão das atividades com alegações de dificuldades financeiras e passou a anunciar a mudança de gestão da instituição. Diante dessa ameaça, estudantes e docentes se mobilizaram e criaram o movimento “Imes Aberto”, na tentativa de impedir o fechamento.

Foram realizadas reuniões com vereadores, articulações políticas e campanhas de arrecadação para viabilizar reformas exigidas para expedição do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros. No entanto, mesmo após a conquista de verbas junto a parlamentares, a gestão do Imes recusou os recursos sem consultar a comunidade acadêmica.

Sem a abertura de novas turmas e com a transferência de muitos estudantes para outras instituições, o fechamento do Imes se concretizou, com a suspensão oficial das atividades em dezembro de 2023. Em novembro de 2024, foi anunciada uma Parceria Público-Privada (PPP) que concedeu a gestão do Imes São Manuel à Fundação Cultural Educativa de Rádio e Televisão Lanhoso de Lima (Funcell). O processo, conduzido sem transparência e sem participação da comunidade acadêmica, impôs uma situação inaceitável.

As e os docentes, que são servidoras e servidores municipais autárquicos, foram colocados em disponibilidade e a grande maioria passou a receber valores muito abaixo do salário mínimo, alguns entre R$ 200 e R$ 600. A prefeitura ignora direitos trabalhistas básicos, como vale-alimentação e reajustes salariais, aprofundando a precarização. Além disso, docentes foram forçados a usufruir de licenças-prêmio contra sua vontade.

Histórico
Desde 2022, a prefeitura de São Manuel já sinalizava a intenção de fechar o Imes, alegando dificuldades financeiras. A decisão foi divulgada, inicialmente, em uma live no Facebook, sem qualquer formalização oficial.

O ANDES-SN teve acesso a uma análise de relatórios do Tribunal de Contas do Estado (TCE), e a principal justificativa apresentada pela prefeitura para o fechamento, posteriormente comuinicada pela gestão do Imes, foi que o prefeito não realizaria mais o repasse anual à instituição e que, sem o repasse, a existência do Imes não seria viável.

Na ocasião, foi apontado que tal justificativa não se sustentava, pois o Imes não conseguia fechar as contas positivamente sem o subsídio da prefeitura há mais de 10 anos provavelmente. A lei de criação do Imes prevê que a prefeitura é a principal mantenedora (somando às mensalidades e outras fontes de renda) e, portanto, teria a obrigação de continuar com o repasse. Desta forma, o fechamento ou a manutenção do Imes é uma decisão política.

Além disso, segundo informações levantadas pelo ANDES-SN, a prefeitura impôs ao Instituto uma cobrança de 25% além do previsto para recolhimento previdenciário, com o objetivo de sustentar o Instituto de Previdência Municipal (Iprem), agravando ainda mais a situação financeira do Imes.

A Funcell é uma fundação privada com vínculos aparentemente suspeitos dentro do Conselho Estadual de Educação (CEE), com uma transição marcada pela falta de transparência no processo licitatório e pela ausência de consultas à comunidade acadêmica.

“A situação das e dos docentes é esdrúxula. Servidoras e servidores municipais autárquicos foram colocados em disponibilidade recebendo salários aviltantes que, na grande maioria dos casos, não chegam nem de longe a um salário mínimo. As e os colegas não foram consultados em nenhum momento sobre o processo de privatização e não têm ideia de como ficará sua situação funcional. Exigimos que a prefeitura e a Funcell respeitem os direitos das professoras e dos professores. Combateremos qualquer processo de privatização da educação! Educação não é mercadoria!”, ressaltou Michele Schultz, 1ª vice-presidenta da Regional São Paulo do ANDES-SN.

Confira o vídeo:

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