Documentário retrata população atingida por rompimento de barragem em Brumadinho (MG)

Atualizado em 29 de Julho de 2022 às 14h58

"Pra nós, aqui, acabou com tudo. Você tem um peixe pra vender, vai vender pra quem? Às vezes tem que vender pra um amigo seu, quase barato, porque não tem um turista mais pra te comprar um peixe." O depoimento de Filé, morador de Pontal do Abaeté, comunidade localizada em Três Marias (MG), faz parte do mini-documentário lançado pelo Instituto Guaicuy, entidade não governamental, sobre os danos causados pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), em comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco nos municípios de Três Marias e São Gonçalo de Abaeté. O episódio é considerado um dos maiores desastres-crimes ambientais do Brasil.

O Instituto Guaicuy presta Assessoria Técnica Independente para 10 dos 26 municípios considerados como atingidos pela Justiça, depois que a lama da mineradora foi derramada no Rio Paraopeba, um dos mais importantes afluentes do Rio São Francisco. As comunidades atendidas pela organização estão localizadas na Represa de Três Marias, por onde passa o Rio São Francisco antes de seguir para o Nordeste do Brasil.

Em depoimentos carregados de dor e preocupação, ribeirinhas e ribeirinhos que vivem às margens do Velho Chico, reivindicam a reparação justa pelos danos causados pelo crime da mineradora em 2019. "Pode parecer uma área pequena diante de todo o território atingido, se comparado com as margens do Rio Paraopeba e Lago de Três Marias, e por isso muitas vezes não ganha a devida atenção, mas diversas comunidades desses municípios contam com as águas do Rio São Francisco para atividades determinantes para seu sustento, como pesca, turismo e plantio, e relatam terem tido muitas mudanças negativas após a ruptura da barragem", conta Hélio Sato, coordenador regional do Guaicuy. Ele ressalta que as comunidades retratadas no mini-documentário não são as únicas afetadas pelo rompimento nas margens do Rio São Francisco.

Sem auxílio
"O rompimento afetou famílias, pessoas que não têm nada a ver com aquilo, que estavam extremamente fora daquela região, e a gente continua sendo afetado mesmo depois de tanto tempo", desabafa Adão, morador de Silga, comunidade de Três Marias.

Por mais que estejam incluídos nas áreas consideradas no acordo judicial, as ribeirinhas e os ribeirinhos do Rio São Francisco citados no mini-documentário não contam com o Programa de Transferência de Renda (PTR), valor que deverá ser pago mensalmente às pessoas atingidas ou prejudicadas pelo rompimento da barragem da Vale.

Isso acontece, segundo o Instituto, porque o programa possui alguns critérios que devem ser considerados para garantir o recebimento da quantia mensal: a pessoa deve viver em comunidades que ficam até um quilômetro da margem do Rio Paraopeba, ou das margens do lago de Três Marias reconhecidas como atingidas, ou em comunidades que sofrem com desabastecimento de água, ou nas que receberam alguma obra emergencial relacionada ao desastre.

Crime ambiental
No dia 25 de janeiro de 2019 ocorreu o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG). O crime ambiental provocou a morte de 272 pessoas, sendo que seis continuam desaparecidas, e uma série de danos à natureza, com impacto direto na vida de milhares de trabalhadoras e trabalhadores.

O rompimento despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mineração na bacia do rio Paraopeba. A lama percorreu mais de 300 km, afetando 18 municípios e atingindo 944 mil pessoas. Centenas de famílias tiveram vítimas fatais. Mais de 600 mil pessoas tiveram o abastecimento de água comprometido em 8 municípios que dependem do rio Paraopeba, inclusive na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Com as fortes chuvas, em especial no ano seguinte ao crime ambiental, o Paraopeba transbordou e, com isso, os rejeitos que permaneciam no leito do rio também carregados para o São Francisco. A bacia do Rio São Francisco possui uma extensão de quase 640 mil quilômetros quadrados, entre Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a bacia abrange 505 municípios, onde vivem 18 milhões de brasileiros e brasileiras.

Assista abaixo o documentário:

*Imagem: reprodução/Documentário

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