Em todo o país, manifestantes foram às ruas contra a violência policial e de Estado

Atualizado em 25 de Agosto de 2023 às 16h41

As ruas de diversas cidades do país foram tomadas nessa quinta-feira (24) por protestos contra a violência policial e de Estado contra a população negra e periférica do país. Apenas entre o fim de julho e início de agosto, chacinas policiais mataram ao menos 32 pessoas na Bahia - estado que tem a polícia mais letal do país, 18 em São Paulo e 10 no Rio de Janeiro. As manifestações foram convocadas pelas entidades do movimento negro e contaram com a participação do ANDES-SN e suas seções sindicais.

Ato no Rio de Janeiro. Foto: Luiz Fernando Nabuco/Aduff SSind.

Os atos denunciaram também o assassinato de lideranças de movimentos sociais, como o da liderança quilombola Mãe Bernadete Pacífico, assassinada, no último dia 18 de agosto, em sua residência na cidade de Simões Filho (BA). Essa e outras mortes como a de Marielle Franco e Margarida Alves demonstram o descaso do Estado em garantir a segurança de lutadoras e lutadores e mostra não ser apenas a polícia a operar o genocídio que recai secularmente contra a população negra no país, sendo também praticado pelo Capital e pelo latifúndio, no atentado às condições de vida, especialmente de negras e negros. “O ANDES-SN exige uma apuração rigorosa deste e de todos os assassinatos de líderes religiosos do povo negro. Continuaremos nossa luta incansável e nosso empenho na defesa das expressões religiosas de matriz afro-brasileira-indígena”, afirmou o Sindicato Nacional em nota sobre o assassinato da Coordenadora Nacional da Articulação dos Quilombos (CONAQ) . Leia a nota na íntegra AQUI.

Ato em Brasília. Foto: Eline Luz/ANDES-SN

"Esta marcha é em memória de todas as vítimas das cachinas policiais, lembrar as vítimas de uma política genocida e uma necropolítica que acontece todos os dias com os corpos negros", afirmou a ativista Dani Sanchez, integrante da Coalizão Negra por Direitos e do movimento Pelas Vidas Negras no Distrito Federal.

Em Brasília (DF), o ato reuniu algumas dezenas de pessoas, que caminharam do Museu Nacional da República pela Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes, fechando duas faixas da pista. Atos foram convocados em mais de 30 cidades em ao menos 25 estados. Diretores e diretoras do ANDES-SN estiveram presentes no protesto na capital federal.

Ato em Brasília. Foto: Eline Luz/ANDES-SN

Em fala durante o ato, Caroline Lima, 1ª secretária do ANDES-SN, afirmou que, no Brasil, a bala perdida tem endereço certo. A diretora, que é docente da Universidade do Estado da Bahia, denunciou que seu estado tem a polícia mais letal do país. “Hoje, na Bahia, infelizmente num governo progressista, temos um governador que vai para a TV fazer a defesa dessa política genocida, mas estamos dando resposta. Hoje, no país inteiro, nós dizemos que não queremos essa política de segurança pública que está nos matando. Nós não queremos uma política de segurança pública que criminaliza a pobreza, a favela e a periferia. Nós queremos uma segurança pública que preserve as nossas vidas. O ANDES-SN se coloca ao lado do movimento negro e das entidades para que a gente faça o dia de hoje se estender em outros dias até barrar essa política genocida”, afirmou.

Ato no Rio de Janeiro. Divulgação.

Caroline lembrou ainda que o Brasil é um dos países que mais mata lideranças de movimentos sociais. “Estamos aqui hoje para dizer que não toleramos mais a violência de estado e a violência policial. Mãe Bernadete foi vítima de uma política de segurança pública, que não garante as nossas vidas. Margarida Alves e Marielle Franco também foram vítimas dessas violências. Quanto mais têm que morrer para essa guerra acabar?”, questionou.

Ato no Rio de Janeiro. Foto: Luiz Fernando Nabuco/Aduff SSind.

'Parem de nos matar'
No Rio de Janeiro, o ato aconteceu na Candelária e foi marcado por depoimentos fortes de mães que perderam seus filhos em ações das forças de segurança do estado. Docentes das seções sindicais do ANDES-SN participaram da manifestação, que exigiu o fim da violência policial contra o povo negro e pobre das favelas e periferias do Rio de Janeiro e do país.

Ato em Belém (PA). Foto: Adufpa SSind.

Em Belém, a concentração do ato ocorreu no Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN), de onde os manifestantes seguiram em marcha até a Praça da República. A Associação de Docentes da Universidade Federal do Pará (Adufpa SSind) esteve no ato, com representantes da diretoria e base.

Em Aracaju (SE), o ato Pelo Fim da Violência Racista da Polícia aconteceu a partir das 15h, na Praça Camerino. Em Teresina (PI),  o ato no Parque da Cidadania também contou com a participação de docentes da base e da diretoria do ANDES-SN.

Ato em Terezina (PI). Foto: Divulgação.

Já em Porto Alegre, a Seção Sindical do ANDES-SN na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esteve presente na atividade realizada na Esquina Democrática, a partir das 17h30. No RS, pesquisa recente apontou que o critério racial de ser negro é o principal motivo de abordagens policiais.

Em São Paulo, a reação às chacinas cometidas pelas forças policiais foi marcada por ato na Avenida Paulista. A atividade reuniu centenas de pessoa no Vão do Masp, a partir das 18h.

O dia de protestos iniciou uma sequência de atividades que deverá prosseguir até novembro, Mês da Consciência Negra.

Desconfiança nas polícias
Mais de metade da população brasileira confia pouco ou nada nas polícias estaduais - civil e militar. É o que revelou um levantamento feito pelo Instituto Opinião e divulgado nesta semana pelo site Congresso em Foco.

O levantamento mostrou que 48,9% das pessoas confiam pouco na Polícia Militar, enquanto 15,5% disseram não ter nenhuma confiança. Em relação à Polícia Civil, os índices foram semelhantes: 47,7% confiam pouco; 14,7% não confiam.

Ato no Rio de Janeiro. Foto: Luiz Fernando Nabuco/Aduff SSind.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) sobre o índice de mortes violentas intencionais mostram que a população negra é o alvo principal e sustentam a insegurança em relação às forças policiais. Em 2022, houve 47.508 casos e 76,5% das vítimas eram negras, segundo a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Um outro levantamento - divulgado no ano passado pela Rede de Observatórios da Segurança (ROS) - mostrou que a polícia mata uma pessoa negra a cada quatro horas em ao menos seis estados: Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.

Ato em Belém (PA). Foto: Adufpa SSind.

Em termos de violência policial, os dados não são menos eloquentes, envolvendo um número impressionante de vítimas crianças e adolescentes. Estatísticas também compiladas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, entre 2017 e 2019, por exemplo, as forças de segurança mataram 2.215 crianças e adolescentes negros de até 19 anos de idade em todo o país.

*Com informações das Seções Sindicais, Agência Brasil e Brasil de Fato
 

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