Liderança indígena Ka’apor sofre atentado no Maranhão e indígenas suspeitam de madeireiros

Publicado em 01 de Fevereiro de 2022 às 14h36
Indígenas Ka’apor lutam há anos pela retirada dos invasores de seu território tradicional. Foto: Povo Ka’apor

Uma liderança indígena Ka’apor foi vítima de uma emboscada no município de Santa Luzia do Paruá, no Maranhão, no dia 22 de janeiroA liderança estava em um carro acompanhado quando três caminhonetes e um carro se aproximaram. O motorista de um dos veículos apontou em direção à liderança e fez ameaças. As vítimas usaram um restaurante próximo como abrigo e, depois, se dirigiram até a delegacia de polícia, onde aguardaram por três horas, mas não foram atendidas.

Com o descaso ocorrido na delegacia, as vítimas fizeram contato com outras lideranças Ka’apor, com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e com o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) do Maranhão. Após pressão das lideranças e entidades, a Secretaria de Segurança Pública foi acionada e a Polícia Militar fez a escolta da liderança até a comunidade indígena, localizada no município de Nova Olinda (MA). Até o momento, não houve manifestação dos governos estadual e federal, por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai).

De acordo com o povo Ka’apor, o ataque foi orquestrado por madeireiros depois que indígenas fecharam o ramal madeireiro e impediram a extração e a retirada ilegal da madeira do Território Indígena Alto Turiaçu. O território fica na fronteira com o Pará, na Amazônia maranhense, e se estende por áreas de alguns municípios maranhenses. É uma das últimas áreas de floresta amazônica no Maranhão.
Apesar de ser homologado, o território sofre invasões ilegais de madeireiros, caçadores, grileiros e pressão de mineradoras. A extração de madeira ilegal conta com a omissão do governo estadual, das polícias locais e federal e com a conivência de órgãos federais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Funai, segundo os indígenas.

Em carta aberta à sociedade, 170 organizações denunciaram a omissão dos governos e a conivência dos prefeitos locais com a situação. “Muitos prefeitos da região, que são do mesmo partido ao qual o Presidente da República pertence (PL), já se anteciparam autorizando a abertura de garimpos no município, e apoiam extração ilegal de madeira no território Ka’apor”, denunciam no documento. Além disso, as entidades alertam também que vereadores e prefeitos estariam envolvidos com a retirada ilegal de madeira e a extração de ouro em outras áreas de proteção.  

“A madeira e o ouro extraídos nos territórios indígenas são comercializados nos circuitos locais, nacional e internacional. Denúncias na grande imprensa informaram que o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, viabilizou a exportação de madeira extraída criminosamente da Amazônia e que até o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, estaria envolvido nas negociações da extração ilegal de ouro na região”, contam.

“Exigimos a imediata proteção aos Ka’apor, a investigação e prisão dos criminosos que extraem ilegalmente madeira do território indígena, que estão perseguindo, ameaçando e planejam agredir e cometer assassinatos de suas lideranças, como aconteceu anos anteriores, sem que os mandantes e executores fossem penalizados”, ressaltaram as entidades.

Veja a carta aqui 

Com informações de Cimi Regional Maranhão e Conselho de Gestão Ka’apor Tuxa Tá Pame

 

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