ANDES-SN se solidariza com docente discriminada pelo CNPq por 'gestações'

Publicado em 04 de Janeiro de 2024 às 18h18. Atualizado em 04 de Janeiro de 2024 às 18h19

Em nota divulgada nesta quinta-feira (4), a Diretoria do ANDES-SN expressa solidariedade e apoio à professora e pesquisadora Maria Caramez Carlotto, da Universidade Federal do ABC (UFABC), que recentemente enfrentou uma decisão desfavorável, de cunho machista e misógino, no processo de avaliação para a concessão de bolsa de produtividade (PQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Um dos pareceristas responsáveis por avaliar o projeto usou as gestações da pesquisadora para justificar a negativa à concessão da bolsa. "Resultado preliminar da bolsa produtividade @CNPq_Oficial reconhece minha carreira, mas aponta que não fiz pós-doc fora. Pandemia? Gov. Bolsonaro? não... "provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas, o que poderá ser compensado no futuro". Vontade de chorar.", divulgou Maria Carlotto, em uma de suas redes sociais, no último dia 26.

Para a diretoria do Sindicato Nacional, o parecerista responsável pela avaliação emitiu um juízo de valor permeado por preconceitos, revelando uma postura machista e misógina, impregnada de viés de gênero.

“É inadmissível avaliar o desempenho profissional de uma mulher com base em critérios sexistas, como a conjectura de que gestações possam ser um obstáculo para suas aspirações acadêmicas. Tal argumento reforça estereótipos ultrapassados que prejudicam o avanço da igualdade de gênero no ambiente acadêmico. A gestação e a maternidade não devem ser consideradas entraves à carreira de uma pesquisadora, e é inaceitável que tais fatores sejam utilizados como justificativa para negar oportunidades de reconhecimento e desenvolvimento profissional. A parentalidade envolve responsabilidades que podem afetar a carreira de docentes e pesquisadora(e)s de forma distintas, assim, é imprescindível que a comunidade acadêmica reconheça a disparidade de impacto entre homens e mulheres”, afirma a nota.

Após a repercussão do caso, o CNPq emitiu nota de esclarecimento a respeito do parecer, afirmando que “tal juízo foi formulado em parecer ad hoc, não tendo sido corroborado pelo comitê assessor responsável pelo julgamento, o qual fez análise de mérito comparativo com as propostas da mesma área apresentadas no edital e sopesando a disponibilidade de recursos orçamentários, sem considerar tal parecer.”

Carlotto reconheceu, também em postagem na rede social X, a importância do órgão “reagir ao absurdo do parecer dado ao meu pedido de bolsa produtividade”, mas apontou a responsabilidade do Conselho em não ter anulado a avaliação.

“Foi, sim, um erro do parecerista Ad hoc, mas foi tbm (sic) do CNPq q deveria ter interditado o parecer como um todo. Na prática, o CNPq me incentivou a submeter um projeto pós licença maternidade e me submeteu, depois, a uma violência de gênero”, postou a pesquisadora.

“Vale lembrar que as bolsas produtividade são talvez dos espaços mais desiguais, em termos de gênero, de todo o sistema científico. Isso o CNPq precisa olhar com muita atenção e propor políticas efetivas”, acrescentou.

A diretoria do ANDES-SN também cobrou que o CNPq tome as providências necessárias para promover formação política e pedagógica sobre o viés de gênero na academia, especialmente sobre os impactos da maternidade nas carreiras de docentes e pesquisadoras que decidem ser mães. “A conscientização e a implementação de medidas que combatam o sexismo e a discriminação de gênero em todos os processos de avaliação acadêmica devem ser a tônica nas universidades, CEFETs e IFs, e também nas agências de financiamento à pesquisa, sejam nacionais ou regionais (FAPs)”, ressalta.

“A luta por uma academia justa, igualitária e livre de discriminação é responsabilidade de todas e todos nós, e a solidariedade é um passo fundamental nesse caminho. Infelizmente, o caso em tela não é isolado. Há inúmeros relatos de arbitrariedades sexistas na academia, denotando que o efeito é sistêmico”, lembra a diretoria do Sindicato Nacional.

Confira aqui a íntegra da Nota.

*Imagem: MCTIC/Divulgação

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