Degradação da Amazônia emitiu 2,5 mais gases de efeito estufa que desmatamento em 2024

Publicado em 07 de Março de 2025 às 17h01.

A eliminação parcial e gradual da vegetação da Amazônia, processo conhecido como degradação, disparou em 2024, com uma alta de 597% em relação ao ano anterior. Mais de 36 mil km² de floresta foram impactados, principalmente pelo fogo, contra 3,7 mil km² em 2023, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Com esse avanço, esse tipo de dano à floresta emitiu 2,5 vezes mais gases de efeito estufa do que o desmatamento no ano passado, segundo cálculo da organização, totalizando 161,4 milhões de toneladas de CO₂.

Foto: Fábio Bispo / InfoAmazônia

Conforme a análise da InfoAmazonia, veículo de mídia independente, com base nos dados do SAD, o problema se concentrou dentro de terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas. Foram 19,6 mil km² degradados (54,4% do total da Amazônia), o maior índice desde 2009 para áreas protegidas e equivalente a quase 13 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

Entre essas categorias, as Terras Indígenas (TIs) são as mais afetadas, representando 41,6% (15 mil km²) do total degradado na Amazônia. Quase um terço dessa degradação ocorreu na TI Kayapó, onde foram devastados 4,9 mil km².

Já nas Unidades de Conservação (UCs), o SAD identificou 4,6 mil km² afetados. A Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu foi a UC mais degradada no ano passado, com 1,4 mil km² impactados, área maior do que a da cidade do Rio de Janeiro. Em seguida, está a Floresta Nacional do Jamanxim, com mais de 800 km².

Tanto a TI Kayapó quanto a APA Triunfo do Xingu e a Flona do Jamanxim ficam no Pará. O estado liderou a degradação na Amazônia em 2024, com sete dos 10 municípios mais afetados e 47% das áreas mapeadas pelo SAD (17 mil km²). Esse valor representa um aumento de 421% em relação a 2023.

O segundo estado que mais degradou a Amazônia em 2024 foi o Mato Grosso, com 9,3 mil km², seguido do Amazonas, em terceiro, com 3 mil km².

Degradação supera o desmatamento
No ano passado, o desmatamento na Amazônia, também monitorado pelo SAD, apresentou uma queda de 7%, emitindo 60,7 milhões de toneladas de CO2 — uma tendência oposta à alta da degradação. O desmatamento é a remoção total da vegetação nativa, deixando o solo exposto. Já a degradação é a perda parcial e gradual da vegetação, causada por fatores como fogo, extração seletiva de madeira e impacto de borda.

O geólogo Carlos Souza Jr, pesquisador do Imazon que participou dos estudos para calcular as emissões por degradação, diz que esses números são preliminares e que a metodologia em desenvolvimento é bastante conservadora, pois não inclui os dados de efeitos de borda e a seca extrema do ano passado. No entanto, antecipa que os resultados demonstram que “a degradação deve ser considerada e não devemos focar apenas no controle do desmatamento”, ressalta.

Ane Alencar, pesquisadora e diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), também defende que é essencial contabilizar as emissões por degradação no Brasil. “A área atingida pelo fogo é muito maior do que a área desmatada, e isso tem impactos significativos”, pontua.

No entanto, a cientista explica que as emissões de gases do efeito estufa liberadas por fogo que não estão associadas ao desmatamento e outros tipos de degradação não são contabilizadas oficialmente pelos países. Isso ocorre, segundo ela, por um entendimento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), principal referência científica global sobre o tema.

“Para o IPCC, os incêndios e outros tipos de degradação não são vistos como antrópicos [por ação do homem], como são os casos dos incêndios florestais que vimos na Califórnia, por exemplo. Também é considerada a adaptação e a regeneração dessas áreas. Mas, no Brasil, o que queima são florestas úmidas, em incêndios provocados por ação humana”, explica. Em outras áreas de floresta, a cientista explica que os incêndios podem ser provocados por vulcões, deslizamentos ou até mesmo tempestades de raios.

Em nota técnica publicada no ano passado, o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), uma iniciativa do Observatório do Clima que estima as emissões brasileiras, defendeu a inclusão da quantidade de carbono liberada pela degradação no inventário nacional, documento do governo federal que reporta as emissões e remoções de gases de efeito estufa no país, seguindo diretrizes internacionais da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

“O processo de recuperação pode ser lento [após a degradação na Amazônia] e frequentemente novos distúrbios se sucedem antes que a floresta retorne ao estado original. A contabilização das emissões derivadas dos processos de degradação e sua inclusão no inventário nacional são essenciais para que se tenha estimativas mais acuradas em todo o território nacional”, diz trecho da nota.

O relatório aponta que as emissões por queimadas no Brasil historicamente apresentam picos em anos de seca extrema, como 1998/1999, 2005, 2010 e 2015/2016, períodos fortemente influenciados pelo fenômeno El Niño. Essas formas de degradação, segundo a organização, podem reduzir os estoques de carbono da floresta entre 4% e 50%.

Em 2024, a seca afetou 9 em cada 10 terras indígenas na Amazônia, e mais da metade dos municípios amazônicos passaram o ano inteiro em seca.

Leia a reportagem completa aqui

Fonte: Infoamazônia, com edição de ANDES-SN

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