Milhares de argentinas e argentinos marcharam nessa segunda-feira (24) no país para marcar o aniversário do golpe de Estado de 1976, que instaurou a última ditadura empresarial-militar (1976-1983) na Argentina. O ato principal ocorreu na histórica Praça de Maio, na capital Buenos Aires, onde uma multidão lotou as ruas em uma das maiores manifestações dos últimos anos.
A adesão superou a do ano passado, tornando este o maior 24 de março sob o governo de Javier Milei. Desde a manhã, organizações sociais, sindicais e comunitárias promoveram atividades em diversas cidades argentinas para reafirmar a luta por memória, verdade e justiça.
Sob o lema “30 mil companheiros desaparecidos, presentes!”, as e os manifestantes uniram a luta histórica pela punição aos crimes da ditadura a uma forte rejeição às medidas do governo atual. Elas e eles carregaram cartazes com fotos em preto e branco das e dos desaparecidos políticos, enquanto entoavam palavras de ordem contra a ditadura e as políticas do governo atual. “Milei, lixo, você é a ditadura” foi um dos cantos mais entoados ao longo do dia.
Mães da Praça de Maio
As Mães da Praça de Maio foram as primeiras a chegar com seus lenços bordados com os nomes das filhas e dos filhos desaparecidos. Em meio à multidão, caminharam de mãos dadas e receberam apoio das e dos manifestantes, que entoaram: “Mães da Praça, o povo as abraça!”.
“Não podemos esquecer. Viemos todos os anos para manter viva a memória dos nossos companheiros”, disse Daniel Ghigliazza, 78 anos, segurando a foto de um parente desaparecido. Como faz todos os anos, Ghigliazza foi à praça com a esposa e os netos, que hoje fazem parte do centro estudantil da escola deles. Acredita-se que mais de 30 mil pessoas foram mortas durante o último regime ditatorial no país vizinho.
No meio da tarde, teve início o ato central no palco montado atrás da Casa Rosada, sede do governo argentino. Na frente da multidão, Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio; Taty Almeida e Elia Espen, da Linha Fundadora das Mães da Praça de Maio; e Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, leram o documento de consenso que reafirma a luta por justiça e direitos.
O texto também exige o fim das demissões nos setores público e privado e clama por justiça para Pablo Grillo, fotógrafo gravemente ferido pela repressão policial durante a marcha das aposentadas e dos aposentados no dia 12 de março.
Horas antes da mobilização, o governo argentino divulgou um vídeo oficial que classificava a ditadura como uma medida “necessária” em um contexto de guerra. O material negava o caráter sistemático da repressão e do extermínio de militantes, trabalhadoras e trabalhadores organizados.
Aposentadas e aposentados
As aposentadas e os aposentados do país têm sofrido com os cortes nas aposentadorias promovidos por Javier Milei e a repressão policial nas manifestações anteriores.
No dia 12 de março, a polícia argentina reprimiu brutalmente uma marcha que reuniu aposentadas, aposentados, organizações de trabalhadoras, trabalhadores e torcidas organizadas de diversos times do país. O protesto ocorreu nos arredores do Congresso argentino, em Buenos Aires.
Segundo a Telesur, a polícia atacou idosas e idosos, com bombas de gás e balas de borracha. A repressão se estendeu até a Praça de Maio, símbolo histórico da resistência contra a ditadura, onde fica a Casa Rosada. O clima de tensão social na Argentina segue crescendo, com setores organizados reforçando mobilizações contra as políticas do governo Milei.
Fonte: Brasil de Fato, com edição e acréscimos de informações do ANDES-SN