Enquanto fome aumenta entre a população brasileira, bancos já lucraram R$ 62 bi em 2021

Atualizado em 19 de Outubro de 2021 às 17h20
Foto: Roberto Parizotti / Fotos Públicas

Enquanto a população brasileira sofre com a elevação dos preços de itens básicos de consumo - como alimentos, gás de cozinha, energia elétrica -, com o aumento do desemprego e da informalidade, o que tem deixado um maior número de pessoas em situação de fome e miséria, o sistema bancário lucrou, no primeiro semestre de 2021, R$ 62 bilhões. A informação foi divulgada em relatório do Banco Central do Brasil (BCB), publicado nessa segunda-feira (18).

De acordo com as análises realizadas pelo BCB, não há risco relevante para a estabilidade financeira.  “A liquidez do sistema bancário retorna gradativamente ao patamar pré-pandemia e mantém-se em nível confortável e compatível com o balanço de riscos”, diz o documento.

O relatório demonstra que a realidade do povo brasileiro pouco impacta na lucratividade do sistema bancário. Ao contrário, enquanto os bancos aumentam seus patrimônios, a chamada insegurança alimentar disparou nos dois últimos anos e atinge 117 milhões de pessoas no país. Há ainda 19,1 milhões de brasileiros e brasileiras que efetivamente passam fome, vivendo em um quadro insegurança alimentar grave.

Os dados fazem parte do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan). Pela pesquisa, mais da metade da população está em situação de insegurança alimentar, seja leve, moderada ou grave.

As palavras miséria, fome, informalidade, insegurança alimentar não constam do estudo do Banco Central e nem são consideradas fatores que impactam a estabilidade do sistema financeiro. O único termo presente no relatório que tem alguma relação entre a vida de boa parte da população brasileira e o sistema bancário do país é o desemprego.

A realidade que afeta a vida de, ao menos, 14 milhões de brasileiras e brasileiros é utilizada no estudo do BCB como um dos elementos de risco para testes de estresse de capital, que avaliam a estabilidade do sistema. “Compostos por um teste de estresse macroeconômico e por análises de sensibilidade a fatores de risco julgados relevantes, os testes de estresse são simulações utilizadas para estimar as perdas resultantes da materialização de eventos extremos, porém plausíveis, e avaliar a resiliência de uma instituição ou do sistema financeiro”, explica o relatório.

Ainda conforme o documento divulgado pelo BCB, testes de estresse de capital demonstraram que o sistema bancário está preparado para enfrentar todos os choques macroeconômicos simulados. Foram utilizados três cenários. O primeiro considera uma queda conjunta na atividade econômica, na inflação e na taxa de juros. O segundo provocaria queda na atividade econômica, com aumento na inflação e na taxa de juros. Ambos não afetariam a rentabilidade do sistema financeiro.

Já o terceiro cenário avaliado nos foi o efeito sobre o capital caso a reforma tributária, em discussão no Congresso Nacional, seja aprovada. “No primeiro momento, haverá reavaliação do crédito tributário, sem efeito no caixa dos bancos. No médio prazo, a alíquota menor reduzirá o dispêndio com tributos”, afirma o BCB.

Segundo o Banco Central, a rentabilidade dos bancos já está no nível pré-pandemia. Por outro lado, a incerteza continua acima do usual. “No primeiro semestre de 2021, o SFN [Sistema Financeiro Nacional] manteve as provisões elevadas, as perdas esperadas com crédito se reduziram, a capitalização do sistema bancário melhorou, e a liquidez manteve-se confortável”, sinaliza o Banco Central.

A diminuição das despesas com provisões, a melhora nas receitas com serviços e um crescimento das despesas administrativas abaixo da inflação também impactaram na recuperação da rentabilidade dos bancos.

Confira aqui o relatório.

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